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Manifesto do Partido Mais Comunista

Servidor Público Federal

Desculpem a demora, camaradas, mas estávamos reunidos na ocupação da USP e, enquanto isso, formulávamos democraticamente um novo manifesto, o Manifesto do Partido Mais Comunista.

Sentimos que historicamente Marx é o filósofo mais importante, mas o tempo passa e precisamos seguir os passos desse grande pensador: analisar a história e propor medidas contextualizadas. Trabalhamos durante seis meses nas linhas que seguem. Havia mais propostas, mas essas foram as únicas consensuais e a deliberação, já diziam os mestres, tem que ser o mais burocrática possível, para que seja também infalível.

Segue o texto integral do Manifesto do Partido Mais Comunista:


Manifesto do Partido Mais Comunista

1) Fica extinta a propriedade privada.


Bem, isso é o texto em que todos concordamos. Houve divergência nos outros tópicos (liberdades civis, direitos e deveres do cidadão, direitos das mulheres, dos afro-descendentes, liberdade de expressão e imprensa, direito de ir e vir, desenvolvimento sustentável, direito à educação, liberdade religiosa, entre outros).

A minha versão (na verdade a versão verdadeiramente popular redigida por mim sob inspiração Estatal) é a que segue:

2) Liberdades Civis: Estão suprimidos todos os direitos civis até que o Povo, doravante chamado Estado os restabeleça ou estabeleça de acordo com o bem público.

3) Direitos e deveres do cidadão: Todo cidadão tem o dever de pagar impostos. Os direitos serão definidos a contento do desejo do Estado.

4) Direitos das mulheres: Como todo cidadão, as mulheres terão seus direitos suprimidos até que o Estado decida o contrário.

5) Direitos dos afro-descendentes: Como todo cidadão, os afro-descendentes terão seus direitos suprimidos até que o Estado decida o contrário.

6) Liberdade de expressão e imprensa: Liberdade de expressão e imprensa são invenções do grande capital estrangeiro criadas para manutenção do estado atual. Ficam suprimidas a expressão e a imprensa até que o Estado decida em contrário.

7) Direito de ir e vir: Desde que possua um salvo-conduto do Estado, todo cidadão pode ir e vir aonde quiser. Sem ele, nenhum camarada tem direito de existir e, existindo, pode ser livremente retirado da existência por qualquer membro da sociedade portador de um salvo-conduto estatal.

8) Desenvolvimento sustentável: Como todos os investimentos serão feitos pelo Estado, não é necessário que se fale em "desenvolvimento sustentável", pois ele se dará naturalmente.

9) Direito à educação: Até que se estabeleça uma educação que realmente denuncie os males que a educação atual causa por alienação, fica suprimido todo e qualquer direito à educação.

10) Liberdade religiosa: As pessoas não têm o direito de acreditar em Deus.


O camarada Operário Sindicalizado egoistamente discordou dos pontos 6 e 9. Propôs individualmente as seguintes descrições:

6) Liberdade de expressão e imprensa: Liberdade de expressão e imprensa são invenções do grande capital estrangeiro criadas para manutenção do status quo [notem como ele se entregou às expressões estrangeiras com facilidade. Foi irredutível, afirmando que "estado atual não faz muito sentido"]. Ficam suprimidas a expressão e a imprensa até que o Estado decida em contrário.

9) Direito à educação: Fica suprimido todo e qualquer direito à educação, pois ela surgiu como meio de alienação e é intrinsecamente alienante.


A camarada Ambientalista de Puro Coração discordou do ponto 8:

8) Desenvolvimento sustentável: É necessário que o Estado se vigie a si próprio, além de vigiar toda a comunidade, para prevenir possíveis enganos que possam afetar de qualquer forma o meio ambiente. Os seres vivos vieram antes dos seres humanos e têm mais direitos ao planeta Terra que nós.


A camarada Rapper Feminista discorcou nos pontos 4 e 5:

4) Direitos das mulheres: Como todo cidadão, as mulheres terão seus direitos suprimidos até que o Estado decida o contrário. Excetua-se o direito natural à igualdade mamária.

5) Direitos dos afro-descendentes: Como todo cidadão, os afro-descendentes terão seus direitos suprimidos até que o Estado decida o contrário. Isso não vale para os quilombolas, que têm o direito de escravizar o homem branco tanto quanto queira, até que esteja paga a dívida histórica de um povo com o outro.


O camarada Presidente de Diretório Acadêmico se sentiu obrigado a discordar do 9:

9) Direito à educação: Todo cidadão não alienado tem direito a receber do Estado uma educação realmente livre e comprometida com o ideário comunista. Para quaisquer outras pessoas, até que se estabeleça uma educação que realmente denuncie os males que a educação atual causa por alienação, fica suprimido todo e qualquer direito à educação.


O Correspondente Ateu em Cuba discordou do ponto 10:

10) Liberdade Religiosa: Qualquer menção à expressão "liberdade religiosa" ou às palavras "deus", "religião", ou qualquer outra forma de misticismo espiritualista deve ser punida com execução sumária depois de julgamento justo, garantida ampla defesa da acusação. Independentemente do resultado do julgamento, serão todos executados por suspeita e por consumo de verbas públicas.


O camarada Manifestante Anti-E.E.U.U. discordou de todos os pontos, do 2 ao 10:

"Discordo de todos os pontos, do 2 ao 10".


Como vêem, camaradas, não estávamos parados nem somos "pusilânimes", como nos acusou o camarada Blogildovsky. Estávamos deliberando sobre algo que deve afetar diretamente o destino de toda a nação. Espero que compreendam e que nos ajudem no debate dialético que resultará numa síntese de todas as nossas idéias e na versão final de nosso (do povo) Manifesto do Partido Mais Comunista, que tem esse nome apesar da forma de estatuto (quisemos nos livrar da palavra "estatuto" que é muito rígida e a-histórica por definição e nos aproveitamos da palavra "manifesto" por ser devidamente apropriada à consolidação da lógica marxista-histórico-dialética).

Saudações vermelhas, camaradas.

Comentários

  1. Anônimo09:16

    Vou ter que discordar dos meus companheiros-camaradas-amigos-do-coração.O manifesto é descaradamente neo-liberal.Isso sem falar no uso excessivo de palavras como direito e liberade, que nada mais são do que invenções dos burgueses imperalistas estadunidenses (os ianques já usavam essas palavras desde a Roma antiga).Como o camarada Stalin nos mostrou, o Estado tem o dever de proibir que o cidadão saiba o signficado das palavras direito e liberdade, até que este (Estado) decida o contrário.
    O único ponto convergente é acerca da extinção da propriedade privada.Nos demais podemos coversar via Skype, ou usar o Twitter e Facebook, assim que eu chegar na minha humilde casa na Vieira Souto.

    Saudações vermelhas, camaradas.

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